Supergirl
Sou fã dessas séries da DC, mesmo Arrow que tem seus vários defeitos eu gosto desde a primeira temporada. Flash foi um sucesso que conquistou de fato o público, novamente apesar de seus vários vícios típicos das séries americanas, e na esteira desses dois heróis a DC/Warner dá um passo mais ousado com a Supergirl.
Não sei porque se tornou esse tabu todo mexer com super-heróis, quando era uma mera questão de contratos, direitos autorais, de “isso pode/isso não pode” até era mais compreensível. Agora que as grande indústrias dos quadrinhos americanos foram acampadas por produtoras de cinema/tv teoricamente não deveriam existir mais problemas.
Esse é o raciocínio lógico e aparentemente simples para quem quer consumir esses produtos, aos poucos começa a entrar nas cabeças duras que controlam o dinheiro envolvido nessas produções.
Vamos tomar justamente o caso da Supergirl para analisar essa mudança de paradigma. A primeira temporada segue da forma tacanha esperada de sempre: o Superman é citado, parte do seu elenco de apoio aparece na série, mas ele em si não dá as caras na primeira temporada. A situação chega a um ponto ridículo de se fazer uma cena onde aparece só a bota dele para dizer que ele existe, mas que não foi permitido escalar um ator para o papel.
Por que isso? Ah, porque o Superman tem muito potencial comercial e a empresa quer manter ele só no cinema e o ator do cinema queimaria todo o orçamento da série só para fazer uma ponta.
Nem vou entrar no mérito aqui da qualidade dos filmes do Superman, apenas como um exercício pensemos: é preciso que o Superman do cinema seja o da tv? É preciso que aquela estética tosca e deprê dos filmes seja replicada na série?
A resposta simples é não, mas os produtores precisaram desse primeiro ano para entender isso.
Eles criaram uma série que é diametralmente o oposto dos filmes do Homem de Aço. Não, não estou dizendo que a série é boa e o filme ruim, se bem que, bom, deixa pra lá.
A série da Supergirl é uma fofurinha com cara dos anos quarenta. Tudo é colorido, iluminado, cheio de concessões em favor da inocência da série. É uma série jovem, bem humorada, sobre esperança, sobre encontrar seu lugar no mundo e estar à altura de alguém que é um exemplo para você.
A série sugou completamente o filme O Diabo Veste Prada e contratou Calista Flockhart para personificar Cat Grant, a chefe implacável, rainha de todas as mídias, que é a figura central na vida “civil” da Supergirl. Apesar de não ser exatamente uma ideia original, funcionou perfeitamente para amarrar e sustentar a série. É através da Cat que Kara Danvers aprende sobre a vida, sobre ser uma mulher vencedora e crescer em todos os aspectos. (Dá para argumentar aqui que esse mito do chefe cruel, mas com um coração de ouro secreto, que eventualmente premia meritocraticamente o funcionário que achou que não era nem notado em seus esforços, pode não ser o ideal para a vida, mas ok, é apenas uma história, se você enxergou seu chefe apenas no lado ruim de Cat, talvez seja o caso de rever suas escolhas profissionais e não vitimizar a série).
Com essa pegada inocente, com humor, só foi necessário acrescentar a ação, vários vilões poderosos (muitos extraterrestres, alguns adversários do Superman, um Lex Luthor genérico suprido pelo personagem também dos quadrinhos Maxwell Lord) e os 20 episódios da primeira temporada fluíram direitinho.
Não só isso, graças ao que está acontecendo na série do Flash e da teoria do multiverso (que sempre foi um dos fundamentos da DC nos quadrinhos) os produtores finalmente encontraram a ideia brilhante que faltava.
Flash faz uma participação em um episódio divertidíssimo da série e alguém na Warner percebeu: podemos e queremos ter um Superman na série da Supergirl e isso não é nenhum problema, porque o filme pode ser outro universo (nem precisaria dessa desculpa, mas ok, as pessoas são fixadas em explicações) e, agora, já saíram fotos e ótimos comentários da nova temporada da Supergirl que terá, de fato, o Superman que a série merece como coadjuvante.
Enfim, a série é muito divertida, a atriz (que veio de Glee, seguindo a mesma trajetória do Flash) é uma graça e, obviamente, não será a revolução da narrativa televisiva contemporânea, mas, pelo menos, acendeu uma lâmpada dentro da Warner mostrando que nem tudo tem que ser tão sério e nem tudo tem que ser tão engessado.