O fato de a legalização dos jogos ter sido desenterrada bem agora é um tanto curioso, mas não surpreendente. A legalização aumenta a receita com impostos, já que cria um imposto específico para a operação e os prêmios são tributados pelo Imposto de Renda. Teoricamente aumenta o turismo, que também aumenta os impostos. Cria todo um licenciamento e concessões que serão vendidas (mais arrecadação) e uma nova estatal para gerenciar isso, o que cria mais cargos de comissão para os políticos negociarem. E, além disso, beneficia o crime organizado e todos que precisam lavar dinheiro (e vamos combinar que muito políticos precisam de especialistas para lavar dinheiro).O arte da lavagem de dinheiro é algo muito interessante. Alguém que comete crimes com frequência (seja tráfico, extorsão, corrupção, rachadinha, etc) tem um fluxo grande de dinheiro sem origem oficial. Isso passa a ser um problema quando a pessoa precisa comprar uma mansão, um carro ou qualquer bem registrado que chame a atenção. É um problema tão grande para algumas pessoas que elas se dispõe a pagar impostos e uma taxa considerável para quem tem empresas de fachadas que oferecem esse serviço. É claro que empresas fantasmas funcionam, mas são relativamente fáceis de serem descobertas, o que aumenta os riscos. Agora pense na estrutura de um cassino. Há uma entrada de dinheiro sem grandes controles, você pode registrar centenas ou milhares de apostas fantasmas a depender do tamanho da empresa, pode superfaturar contas dos restaurantes dentro do cassino e toda essa estrutura ilegal pode ser comandada de forma paralela por poucas pessoas, sem que todos os funcionários saibam. Enfim, é o lugar perfeito para malas dinheiro sujo entrarem por uma porta e serem registrados com todo o rigor contábil que qualquer fiscalização pode exigir. Você poderia me dizer que isso é verdade para qualquer negócio. Em termos sim. Mas, peguemos um exemplo aleatório, uma loja de chocolates. Você pode inventar receitas, mas precisaria inventar uma movimentação de estoque muito grande para justificar isso já que as margens para esse negócio são bem padronizadas, se for uma franquia então… Óbvio que isso é uma hipótese pouco plausível, porque só um imbecil lavaria dinheiro assim. Assim, por um lado, a lavagem de dinheiro está ligada a facilidade de entrada de dinheiro e à margens de lucro obscenas e variáveis. Um restaurante de luxo, por exemplo, é um lugar mais razoável para lavar dinheiro, mas a operação tem que parecer funcional o bastante para justificar a movimentação financeira. Agora, por outro lado, o dinheiro precisa de um mecanismo funcional de saída. Pode ser o lucro da operação, pode ser o aluguel superfaturado do imóvel onde está o negócio, mas, tudo isso faz que a pessoa tenha que ficar ligada de forma mais ou menos permanente àquela empreitada real, o que pode não ser tão bom para um sujeito que só de vez em quanto obtém alguns valores vultosos. Nesse ponto, o cassino é muito vantajoso. Um militar da reserva pode entrar com a sua mala de dinheiro e sair com o pagamento por uma consultoria de segurança muito cara. O mesmo vale para médicos, advogados e demais prestadores de serviços. E, se o caso for muito urgente, sempre a pessoa que entrou pela porta dos fundos pode sair pela frente como o grande sortudo que apostou um único real e ganhou alguns milhões naquela noite. Não dá para fazer isso sempre, mas, a gente sabe que o jogo é um vício, então o “sortudo” pode reincidir eventualmente. Enfim, há infinitos motivos para odiarmos a volta dos cassinos. Moralidade, preocupação com as finanças dos jogadores compulsivos e, como eu já citei, a abertura de mais um ramo prolífero para a lavagem de dinheiro. Assim esse é mais um atestado de que essa gestão atual da Câmara é uma das piores dos últimos 30 anos, capaz de defender alimentos com mais veneno e qualquer outro lobby sem sentido que vier pela frente. Ah, é claro, tem a bancada evangélica que foi contra. As igrejas são o último bastião da moral nesse país e querem evitar a proliferação de antros em que as pessoas entram e deixam uma quantia não rastreável de dinheiro. Nunca é bom alimentar a concorrência. |